segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Às vezes...

Às vezes… às vezes tenho a sensação que o meu olhar parou. Que as pessoas não se mexem, no entanto, estão eufóricas; que as folhas não abanam, no entanto, está um vento indomável; que as pessoas estão caladas, no entanto, as suas bocas mexem… como um filme sem som; que os carros estão parados, no entanto, as rodas estão em constante movimento… que tudo me passa a frente, que tudo mexe, que tudo se ouve, mas para mim… para mim, está tudo estático. Impávido e sereno.

Os meus olhos param, no entanto… mexem, mexem e procuram, procuram na ânsia de encontrarem aquilo que tanto pediram para ver mas, não, nada. Mesmo sabendo que não o irão encontrarem, permanecem na procura como se não houvesse razão e ouvindo pura e simplesmente, o coração. Cansados até, não descansam e olham, uma vez e outra… mas não, nada. Por esta altura, já sabem que não irão encontrar nada daquilo que desejavam, mas a fé apodera-se deles… a esperança junta-se à luta sem sentido, e estes, imbatíveis… fazem mover meus cansados olhos mais uma das tantas vezes e ainda assim, nada se passa, nunca se passou, e sabem que jamais se vai passar.

Todo o resto do mundo lhes passava a frente, mas para eles, para meus cansados e já tristes olhos… não lhes era relevante, mas sim, indiferente. O mundo passava e chamava, tocava e falava e eu, eu finjo-me preocupada, eu finjo-me feliz. Solto uma ou outra gargalhada, que passados meros instantes, não passaram de uma contracção facial, de uma vontade insaciável de querer irradiar alegria, de dentro para fora, de fora para dentro. Sem qualquer resultado ainda assim, pois o que estes meus olhos, já melancólicos, não viram aquilo que queriam.

Olho pela janela, com esperança dentro de mim, uma esperança forçada, que já nem o meu melhor inconsciente acredita… mas a minha melhor alma, o meu maior desejo, querem ser esperançosos, e eu, e eu assim deixo que o sejam. Já com as expectativas mais baixas que baixas… a minha esperança não morre, e o meu coração com um bocadinho da minha mente, não ouve a razão, e so quer se expressar… livermente.

É querer sentir um cheiro e respirar fundo, tão fundo que a alegria mal cabe cá dentro, é sentir uma presença, uma presença que enche o quarto… mesmo estando sozinha, é olhar para dentro e sentir qualquer coisa a mais, no entanto… encaixa, encaixa na perfeição. É olhar a volta e sentir que falta qualquer coisa, que falta, e que sentimos a sua ausência.

É um sentimento de insatisfação incondicional, onde se tem tudo e ao mesmo tempo, rigorosamente nada.

É querer e não poder… são desejos indesejáveis, é dar amor e dor, é ficar triste sem razão… e só ele sabe, o nosso coração.