quarta-feira, 22 de abril de 2020

Still



Quão mais parada estou
Mais me sinto
Quão mais me sinto
Menos me quero sentir

Tento fugir
Mas não há por onde

Tento reagir
Mas não há ponte

Tento filtrar
Mas temo não dar

Desisto antes de ver
E fico a dever

Já me devo o que não criei
Já me devo
Tudo o que não sei

Quão mais parada estou
Mais pra dentro vou
Quão mais pra dentro estou
Já nem sei o que dou

A mim, sossego não é
Frustração, também não

Um certo desespero
Que não esperava tê-lo

Uma paralisia do corpo
E o interior todo torto

Não quero vasculhar mais
Mas também não
Coisas banais

Falta viver
Sem pensar em sobreviver

Falta-me ser
Sem ter onde me perder

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Tirem-me de Mim



Já tenho a cabeça a prémio
Mas ninguém faz descer a lâmina
Não percebo porquê
Se já a tenho a rolar na lama

Corta de vez
Acciona a guilhotina
Sem medo dos porquês
Que a cabeça é minha

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Através




Namoravas-me pela montra
Sonhaste em ter-me
Não te parecia possível
Algum dia experimentar
Algo tão apetecível
Que mal conseguias olhar

Entraste
Pediste para me ver
Viste e gostaste
Mas ficaste triste
Afinal, não era o que idealizaste

Realizaste então
Que na montra
Seria impossível dizer que não
Ainda assim ficaste
A fazer de conta
Que gostavas de me ter na mão

Há de chegar o dia
Que me devolves à montra
E eu já sabia
Mas fiz-me de tonta

Vou-me deixar ficar
Na montra a brilhar
E um dia há de chegar
Quem realmente me queira levar