domingo, 6 de abril de 2014

Fake it

...until you make it.

Quando era mais miúda, era muito muito timida. Hoje em dia é um bocado à fake it until you make it, e até que funciona.
Mas há uns anos atrás, era de facto muito timida, e naturalmente, desenvolvi um mecânismo de defesa para conseguir lidar melhor com as situações que ficava mesmo atrapalhada.
Lembro-me mais ou menos de uma situação em que alguém falava comigo, e eu estava sem saber como reagir, ou como responder. Foi então que comecei a olhar à minha volta, como que à espera de encontrar algo ou alguém que me salvasse. Num português mais corrente - um buraco onde me enfiar. Foi então que vi um senhor a passear à beira-mar, aparentemente feliz da vida. Zero preocupado.
E numa fracção de segundos,pensei como gostava de ser aquele sr despreocupado em vez de estar a lidar com uma conversa na qual ia metendo os pés pelas mãos. Num aperto sem saber o que dizer ou fazer. Tudo muito intenso.
E aqui encontrei uma solução efemera.
Pensei então - e se eu fosse mesmo o sr despreocupado? Esta pessoa que está a falar comigo, nem sabe quem ou como é que sou.
Num acto de desespero, decidi quase que reportar-me para o corpo do sr despreocupado à beira-mar, e deixei a minha casca inabitada. E foi ocupada por uma versão ermita da minha pessoa, em modo automático.
Eu, no decorrer da conversa, não estava ali. Estava a ver o mar, de mãos nos bolsos, sem uma única preocupação.
Portanto, podia responder o que me apetecesse. Não era eu.
A verdade é que era sempre eu.
O sr despreocupado, foi sempre o sr despreocupado.
E a conversa, foi sempre a mesma.
Mas por momentos, vivi outra realidade por opção.
E tanto que acreditei,
que resultou.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Bolha Ideal



Nasci e cresci dentro de uma bolha e o mundo lá fora, às vezes, assusta-me.
Sempre me pintaram tudo tao cor de rosa, tao querido, tao um conto de fadas; que criei resistência a tudo o que me possa magoar.
Quando num sem saber como ser, mando um graça inteligente na ponta da língua e safo-me à grande.
Passaram-me muito a ideia de que devo ser querida, amável,altruísta. Mas nunca ninguém me ensinou a dizer que não sem me sentir má pessoa. Levei tanto isto à risca que mal saí da minha bolha, não queria acreditar no que via. Não era um paraíso de gente sensivel lá fora. Fiquei parva. Pior, fiquei literalmente sem saber o que fazer. O que fiz foi tentar perceber a razao para as pessoas não serem tão altruístas como acreditava que devia ser. "Acordou mal disposto", "Deve ter discutido com alguém"... Tudo servia para que a minha teoria do mundo cor de rosa sobrevivesse. Se estivesse só mal disposto, então eu não teria razão para me chatear com a pessoa.
Sempre tentei ganhar guerras de flor na mão, um bocadinho por ser assim de natureza, outro por não saber lutar.
E não sei.
Não reconheço maldade, não me a apresentaram. Se pudesse ter escolhido na altura, claramente pedia para a conhecer. Um simples olá, um aperto de mão, só mesmo pra ver o que era aquilo.
Nada.
Nada nada nada.

Percebe-se que se queira dar do bom e do melhor às pessoas que gostamos.
Mas não somente o bom.
Tudo gira a volta de simétricos.

O bom é um. O mau é outro.
Só bom, é péssimo. E só mau, pior ainda.