Soldadinho de chumbo

Tenho saudades do tempo em que andava despida de preocupações.
Nua a correr pelos campos folclóricos de tanta cor.
Vestia uma t-shirt de vez em quando,
Uma camisola no máximo.
Atirava-me de um prédio sem um colchão para me apanhar.
Um precipício para mim era brincadeira.
Ganhei umas feridas é certo, mas muitas cicatrizaram com o tempo.
Caía, sacudia o pó das mãos e lá estava eu outra vez, pronta pra outra.
Agora é diferente.
A minha cabeça comeu o aventureiro destemido que vivia em mim.
Comecei a usar um capacete antes de me atirar,
Ponho umas joalheiras antes de caír,
Sacudo o pó das mãos, mas fico a vê-lo a assentar no chão.
Hoje uso uma armadura completa.
De ferro.
É pesada e custa-me a andar com ela vestida,
Quanto mais correr.
E eu quero fazer uma maratona pelo mundo todo.
Visitar todos os campos que possam existir.
Ver todas as cores da primavera,
Sentir o frio gélido do inverno,
Morrer de calor esparramada no verão,
Atirar-me para cima de um monte de folhas do outono.
Quero poder correr sem parar para descansar.
Mas a armadura pesa.
Prefiro sentar-me a dar um passo em frente,
Quanto mais atirar-me.
Ainda caio, mas já nao dói tanto.
Ainda corro e pulo, mas canso-me rápido.
Sacudo o pó das mãos, mas guardo-o num frasco para nao me esquecer que o fiz.
Para me lembrar de nao repetir.
E nao quero.
Nao quero pensar,
Quero sentir.
Sentir.