quinta-feira, 24 de maio de 2012

Frágil! Transportar e abrir com precaução



O meu coração,
frágil e pobrezinho coração,
já se partiu algumas vezes.

A primeira vez, tive de juntar peças grandes.
Partiu-se em 2 ou 3... nada de especial.

Comprei uma cola baratinha,
e a coisa aguentou-se bem.

Passado uns tempos partiu-se mais uma vez,
e outra,
e outra,
e outra.

E eu?
Eu fui comprando uma cola cada vez mais forte,
mais cara também.
Mas tinha de ser de boa qualidade,
agora que já se tinha partido tantas vezes,
já não se partia em dois ou 3...
mas em 20 ou 30 bocadinhos.
Dá mais trabalho.
Requer mais tempo.
E começa a partir-se com mais dificuldades.
Começa também a ter pontos fracos,
sendo que certa altura partia-se sempre de maneira parecida à anterior.

A cola já lhe começava a dar um aspecto feio,
robusto,
e sem grande harmonia de forma.

Mas lá se foi aguentando à bronca.
E já quando se ia a partir,
já tentava dar outra face.
Uma face que ainda não tivesse sido violentada.

Hoje em dia,
o meu coração tem cola,
fios,
nós,
pensos e também fita cola.

Já se parece um bocadinho com um trapo,
um trapo cheio de remendos,
mas até que nem está mal.
Continua a falar bem,
muito bem.
E nem sequer tem muito medo,
quase nenhum mesmo.
É forte o gajo.
E eu (modéstia aparte) fiz um bom trabalho de restauro.

Sim,
aguenta-se porreiro,
e mal se queixa.

Ainda assim...
Continua com os seus pontos fracos.
Pontos fracos tais que tenta protege-los o mais e melhor possível.

Mas às vezes,
mesmo ele sente necessidade de baixar os braços.
Cansa-se de estar sempre a defender-se,
e só lhe apetece relaxar.

E é aqui que o apanham,
Quando se encosta e respira fundo.

É então que penso que se levar um piparote,
por muito levezinho e até gentil que seja,
se for numa pecinha que nunca colou perfeitamente bem...
desmancha-se todo.
Toooodinho.

E eu não sou de restauração,
e nem sequer tenho uma loja de colas.
Tenho de as comprar.
E hoje em dia é caro,
muita caro.
Sendo que a qualidade tem de ser da melhor também,
e sendo que já se partiu em tantos bocadinhos...
é um trabalho no mínimo, árduo.

Então mas nunca ninguém o colou por ti?
Não.
Não colou.
Partiu e foi-se embora como que um miúdo que parte a jarra preferida da Mãe.

Eu não tenho mais forças para trabalho de restauro,
portanto caso se parta outra vez,
ou o colam por mim...
ou é melhor alguém limpar os bocadinhos do chão,
porque eu não tenho mais força.
Não tenho.

É como se dessem um puzzle de 1000 peças,
em que a imagem final seria um céu azul com nuvens brancas.

Já estou cansada só de pensar.